Aprender a Programar Não Faz Sentido
Se você está começando a programar e se sente perdido, confuso ou achando que não está entendendo nada, eu tenho uma notícia para você.
Não, você não é burro. E não, você não escolheu a carreira errada.
O que está acontecendo com você é exatamente o que deveria estar acontecendo. E quanto antes você aceitar isso, mais rápido vai começar a evoluir de verdade.
Deixa eu te explicar.
O Maior Erro de Quem Começa
O maior erro de quem começa a programar é querer entender tudo desde o início. É achar que programação funciona como um filme, onde tem começo, meio e fim claramente definidos. Onde cada cena faz sentido na ordem em que aparece. Onde tudo se encaixa perfeitamente desde o primeiro minuto.
Mas programação não é assim.
Programação é muito mais como um quebra-cabeça gigante que alguém jogou no chão. No começo, você olha para aquelas mil peças espalhadas e não faz a menor ideia de como aquilo vai se transformar em algo que faça sentido. Você pega uma peça, tenta encaixar em outra, não funciona. Pega outra peça, também não funciona. E você fica ali, tentando, errando, frustrando-se.
Mas aqui está o segredo que ninguém te conta: esse é o processo. Esse caos inicial não é um sinal de que você não serve para programação. É o caminho natural que todo programador percorre.
Primeiro vem o caos. Depois o sentido. É assim que se aprende a programar de verdade.
Por Que Seu Cérebro Está Lutando Contra Você
Existe uma razão biológica para essa confusão toda. Seu cérebro foi programado, ao longo de milhões de anos de evolução, para buscar padrões e criar significado rapidamente. É um mecanismo de sobrevivência. Quando nossos ancestrais viam uma sombra estranha na floresta, não podiam se dar ao luxo de ficar confusos. Precisavam entender rapidamente se aquilo era uma ameaça ou não.
Então seu cérebro está constantemente tentando encaixar tudo que você está aprendendo em categorias conhecidas, buscando padrões familiares, tentando fazer sentido imediato de cada nova informação.
O problema é que programação não funciona assim.
Quando você está aprendendo a declarar uma variável em Kotlin
, por exemplo, seu cérebro não tem nenhuma referência anterior para isso. Não existe nada na sua experiência de vida que se compare diretamente a criar um espaço na memória do computador para guardar um valor que pode mudar.
1
var idade = 25
Parece simples, certo? Mas seu cérebro está processando várias camadas de abstração simultaneamente. O que é uma variável? Por que var
e não outra palavra? O que significa esse sinal de igual? Por que 25 não precisa de aspas mas se fosse um nome precisaria?
São muitas perguntas ao mesmo tempo. E é natural se sentir sobrecarregado.
Mas aqui está o que acontece se você insistir: com o tempo, essas peças do quebra-cabeça começam a se encaixar. Não de uma vez. Não de forma linear. Mas gradualmente, aos poucos, você começa a ver conexões que antes não existiam.
A Ilusão da Compreensão Linear
Muita gente abandona a programação porque espera uma progressão linear e previsível. Tipo assim: “hoje eu entendo 10%, amanhã vou entender 15%, depois de amanhã 20%”. Uma escadinha bonitinha subindo.
Mas o aprendizado de programação não funciona em linha reta. Funciona em saltos. Você pode passar dias ou até semanas se sentindo completamente perdido, sem entender nada, achando que não está evoluindo. E de repente, do nada, tudo clica. Você tem um insight. Uma conexão se forma no seu cérebro. E coisas que não faziam o menor sentido há uma semana atrás agora parecem óbvias.
Já passei por isso inúmeras vezes ao longo da minha carreira. Lembro quando estava aprendendo orientação a objetos no começo. Eu lia sobre classes, objetos, herança, polimorfismo. Assistia tutoriais. Fazia exercícios. Mas simplesmente não entrava na minha cabeça. Eu estava seguindo as instruções mecanicamente, mas sem compreender de verdade o porquê daquilo tudo.
Até que um dia, meses depois, eu estava resolvendo um problema real em um projeto. Precisava organizar informações de usuários de forma eficiente. E de repente, clicou. Ah, é por isso que classes existem. É para isso que serve herança. Tudo aquilo que eu tinha estudado de forma fragmentada finalmente fez sentido em conjunto.
E olha, esse padrão se repetiu várias vezes. Cada novo conceito importante em programação passou por essa mesma jornada: confusão inicial, persistência desconfortável, insight súbito, compreensão profunda.
O Que Fazer Durante o Caos
Então a pergunta que fica é: o que você faz enquanto está nessa fase caótica, onde nada parece fazer sentido?
A resposta pode soar frustrante, mas é a verdade: você continua.
- Você aceita que não vai entender tudo agora.
- Você pega pequenas vitórias.
- Você celebra quando um pedaço minúsculo de código funciona, mesmo que não entenda completamente por que funciona.
- Você copia exemplos.
Sim, você leu certo!
No começo, não tem problema copiar código de tutoriais e exemplos. Não estou falando de copiar para entregar trabalhos ou projetos profissionais. Estou falando de copiar para praticar, para ver o código funcionando, para começar a criar familiaridade com a sintaxe.
Com o tempo, você vai parar de copiar e começar a adaptar. Vai pegar um exemplo e mudar uma parte e depois vai combinar dois exemplos diferentes. E eventualmente, vai criar algo completamente do zero.
Mas tudo isso começa aceitando o caos. Aceitando que você não precisa entender tudo perfeitamente desde o primeiro dia.
Vou te dar um exercício prático que ajuda muito nessa fase inicial, se liga.
Escolha um programa simples que você quer criar. Pode ser algo ridiculamente básico, tipo uma calculadora que soma dois números. Não importa se você não sabe exatamente como fazer. Pesquise, copie exemplos, adapte, quebre, conserte, quebre de novo.
O objetivo não é criar algo revolucionário. O objetivo é passar pelo processo completo de fazer algo funcionar. Porque cada vez que você faz isso, mesmo que seja algo simples, você está treinando seu cérebro a pensar como programador.
A Verdade Sobre Entender Programação
Aqui está uma verdade inconveniente que poucos professores de programação admitem: você nunca vai entender programação completamente. Nem eu, com 14 anos de carreira, entendo tudo. Não existe um ponto onde você olha para qualquer código e pensa “ah sim, domino isso perfeitamente”.
Sempre vai ter conceitos novos para aprender, situações que vão te desafiar e momentos onde você vai olhar para um problema e pensar “não faço ideia de como resolver isso”.
A diferença é que, com experiência, você fica confortável com essa incerteza e desenvolve confiança de que, mesmo não sabendo a resposta agora, consegue encontrá-la.
Você aprende a pesquisar eficientemente e quebrar problemas complexos em partes menores, testar hipóteses e depurar código.
Essas habilidades são muito mais valiosas do que memorizar sintaxe ou decorar conceitos. Porque tecnologia muda. Linguagens evoluem. Frameworks vêm e vão. Mas a capacidade de resolver problemas, de aprender continuamente, de lidar com a ambiguidade permanece relevante para sempre.
Então quando você está naquela fase caótica inicial, onde nada faz sentido, você não está perdendo tempo. Você está desenvolvendo tolerância à frustração. Está treinando sua mente para lidar com problemas complexos sem ter todas as respostas. Está construindo resiliência.
São essas qualidades, muito mais do que conhecimento técnico específico, que separam programadores que desistem dos que constroem carreiras sólidas.
Como Acelerar a Saída do Caos
Aceitar o caos não significa ficar passivo esperando o entendimento cair do céu. Existem coisas práticas que você pode fazer para acelerar sua transição da confusão para a clareza.
Primeiro, e mais importante: programe todo dia. Mesmo que seja só 30 minutos. Mesmo que você não entenda perfeitamente o que está fazendo.
A exposição repetida ao código cria familiaridade e seu cérebro começa a reconhecer padrões mesmo antes de você conseguir explicar racionalmente o que está acontecendo.
É como aprender um idioma. No começo, você não entende as regras gramaticais, mas ouve as pessoas falando e começa a imitar. Com o tempo, antes mesmo de estudar a gramática formalmente, você já está usando as construções corretas intuitivamente.
Programação funciona da mesma forma. Antes de entender completamente os conceitos de orientação a objetos, você já está escrevendo classes. Antes de dominar a teoria de estruturas de dados, você já está usando listas e dicionários. A prática vem antes da compreensão teórica completa. E está tudo bem.
Segundo ponto: construa projetos pequenos e completos. Não fique só fazendo exercícios isolados. Pegue algo simples que você quer criar, mesmo que seja tosco, e leve do início ao fim. Vai ser bagunçado. Vai ter código feio. Vai ter gambiarras. Não importa. Termine!
Porque quando você termina algo, mesmo que imperfeito, você experimenta o ciclo completo de desenvolvimento. E é esse ciclo completo, repetido várias vezes, que transforma confusão em compreensão.
Terceiro: não pule os erros. Quando seu código não funciona, não corra para pedir ajuda imediatamente. Tente entender o erro. Leia a mensagem de erro com atenção, por mais confusa que pareça. Pesquise no Google. Teste hipóteses. Mude uma coisa de cada vez para ver o que acontece.
Esses momentos de luta com erros são onde acontece o aprendizado real. É desconfortável, eu sei. Mas é necessário. Cada erro que você resolve sozinho fortalece suas habilidades de debug e sua confiança como programador.
A Realidade dos Programadores Experientes
Deixa eu te contar um segredo sobre programadores sêniores. Aqueles que você vê escrevendo código rapidamente, resolvendo problemas complexos, parecendo saber tudo. A verdade é que eles também passam por momentos de confusão. A diferença é que eles não se assustam mais com isso.
Eu regularmente encontro situações onde não sei a resposta. Onde preciso pesquisar. Onde testo várias abordagens até encontrar a que funciona. A diferença não é que eu sei tudo, é que eu já passei pelo caos tantas vezes que não me desespero mais quando ele aparece.
Sei que eventualmente vou encontrar a solução, que o sentimento de estar perdido é temporário e que cada problema difícil que resolvo me deixa mais preparado para o próximo.
E você vai chegar nesse ponto também. Não amanhã. Não semana que vem. Mas se você persistir, se continuar praticando mesmo quando parece não fazer sentido, você vai olhar para trás daqui alguns meses e se surpreender com o quanto evoluiu.
Vai pegar código que você escreveu no começo e pensar “nossa, como eu não entendia isso”. E vai dar risada disso!
Seu Próximo Passo
Se você está na fase caótica do aprendizado de programação agora, aqui está o que você precisa fazer. Não é complicado, mas requer compromisso.
Escolha uma linguagem. Não importa qual. Se você quer desenvolver apps mobile, escolha Kotlin
para Android ou Swift
para iOS, se quer fazer web, escolha JavaScript
, se quer automação, escolha Python
.
O importante é escolher uma e se comprometer.
Defina um projeto simples. Muito simples mesmo. Tipo: um app que mostra uma lista de tarefas, ou um site que exibe informações sobre você, ou um script que organiza arquivos no seu computador. Algo pequeno que você possa completar em alguns dias ou semanas.
Programe todo dia. Nem que seja meia hora.
Abra o editor de código, escreva algumas linhas, quebre coisas, conserte e celebre pequenas vitórias.
Aceite que vai ser confuso e que você não vai entender tudo. Que vai ter dias frustrantes, mas continue mesmo assim ok?
Porque do outro lado desse caos está uma das carreiras mais recompensadoras que existem no planeta.
E lembre-se: todo programador que você admira, todo desenvolvedor que cria aplicativos incríveis, todo sênior que parece saber tudo, todos eles começaram exatamente onde você está agora. Confusos, inseguros, sem entender direito o que estavam fazendo.
A única diferença entre eles e você é que eles não desistiram durante o caos. Eles aceitaram que o caos faz parte do processo. E continuaram.
Você também pode fazer isso. O caos é apenas o começo.
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